Hoje estamos no extremo oposto em que nos encontrávamos algumas décadas atrás, quando os pais muito raramente elogiavam os comportamentos e atitudes dos seus filhos.
Nessa época acreditava-se que fazer as coisas bem feitas não era mais do que uma obrigação e, portanto, tendo em conta os padrões rígidos de educação, não existia espaço para o elogio. Felizmente, ao longo dos tempos, fomos compreendendo a importância e o impacto positivo que elogio pode ter no desenvolvimento das crianças, notando-se, todavia, uma crescente tendência para a utilização do elogio de forma exagerada e pouco adequada.
Estudos recentes têm vindo a demonstrar os efeitos negativos desta nova realidade que é a de “elogiar por elogiar “ou “elogiar por tudo e por nada”. Queremos que as crianças sejam autónomas, no entanto, se lhes dirigimos elogios repetidamente, elas não desenvolvem a capacidade de autocrítica, de autoafirmação, de ficarem felizes com sua própria realização. Muitas vezes aplaudimos tudo, mas nem sempre isso é positivo.
O elogio constante pode mesmo transmitir a mensagem subtil de que, em qualquer atividade a criança tem de obter sempre a aprovação ou validação dos pais, situação que pode contribuir para limitar a sua capacidade de iniciativa e autonomia, tornando-as muito dependentes da aceitação e validação externa para se sentirem bem. Consequentemente, as crianças vão fazer as coisas em função do elogio e não propriamente em função do esforço.
Saiba então o que fazer e o que deve evitar para que o seu filho valorize as suas palavras de encorajamento!
Seja específico e incentive a criança a falar sobre as suas experiências. Procure focar-se nos detalhes ao invés de comentar ou elogiar de uma forma genérica. Assim, por exemplo, quando o seu filho lhe mostrar um desenho, em vez de dizer “Uau, que lindo!”, poderá dizer “Utilizaste uns tons de cor brilhantes e a gostei muito da expressão desta menina, conta-me mais sobre o teu desenho”.
Foque-se no esfoço. As crianças que são valorizadas pelo esforço são mais persistentes na realização das tarefas, têm autoestima e autoconfiança mais elevadas, estabelecem mais facilmente relações com os pares e têm maior facilidade na aprendizagem escolar. É importante elogiar o esforço, que é aquilo sobre o qual temos controlo, pois nem sempre temos controlo sobre o resultado. Numa pesquisa, estudantes norte-americanos divididos em dois grupos, foram submetidos a provas iguais. No final do teste, um dos grupos foi elogiado pela sua inteligência e outro, pelo esforço. Posteriormente, foi-lhes apresentado um novo teste em que poderiam escolher se pretendiam um desafio semelhante ao anterior ou um desafio completamente diferente. As crianças que foram elogiadas apenas pela sua inteligência, rejeitaram o novo desafio por medo de arriscar e de certa forma perder o estatuto alcançado. O erro poderia modificar a imagem que os adultos tinham deles. Já as crianças elogiadas pelo seu esforço, dedicação à tarefa ou persistência, dispuseram-se a tentar um novo desafio, porque independente do resultado da sua ação, a sua postura frente ao trabalho é que seria reconhecida. Tendo em conta este pressuposto, em vez dizer ao seu filho “És tão inteligente!”, poderá dizer algo do género “Vi que te esforçaste muito para resolver esse exercício, estavas mesmo concentrado, deves estar orgulhoso de ti!”.
Agradeça. Quando a criança o ajudar, agradeça e explique porque estás a agradecer.
“Obrigada por pores a mesa, assim consegui acabar o jantar mais rápido. Foste uma grande ajuda!”
Repare nos progressos. Quando a criança consegue fazer algo sozinha e antes necessitava de ajuda para o fazer, dê feedback “Olha, ontem precisaste da minha ajuda para apertar os sapatos, mas hoje já conseguiste sozinho!”
Procure dar mais atenção à pessoa em si e não apenas à aparência ou à prestação da criança. Ter uma boa autoestima é ter a perceção de que gostamos de nós próprios e de que somos amados e valorizados por aquilo que somos, independentemente de fazermos o certo ou errado ou de fazermos as coisas bem ou mal, partindo do pressuposto que aquilo que somos, é suficiente! Esta atitude que vê a pessoa em si, evita que a criança possa vir a sentir-se desvalorizada ou menos amada nas situações de fracasso.
Por último, seja honesto e elogie de forma sincera e genuína, utilize a linguagem não verbal, olhe diretamente para a criança dando a atenção que o momento exige. As crianças sabem e percebem facilmente quando não está a ser sincero ou quando está a “elogiar por elogiar”.
// Artigo escrito pela Dra. Sílvia Oliveira, Psicóloga do Centro Clínico ADCA
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