
Hoje venho falar-vos acerca de comportamentos aditivos, explorar o que são esses comportamentos, as suas características e impactos e como a psicologia pode contribuir para a compreensão e intervenção nesta questão, essencialmente em idades precoces, como a adolescência.
Comumente, quando falamos de comportamentos aditivos, pensamos em substâncias como álcool, drogas ilícitas e tabaco. No entanto, também existem comportamentos aditivos que não envolvem o uso de substâncias químicas. Assim, os comportamentos aditivos sem substância são aqueles em que o individuo procura repetidamente uma atividade, apesar das consequências negativas que esta acarreta. Exemplos destes comportamentos incluem os jogos de azar, compras compulsivas, uso excessivo da internet, redes sociais, o uso excessivo de telas, entre outros.
Os consumos com e sem substâncias estão ligados à ativação direta do sistema de recompensa do cérebro, o qual provoca as sensações agradáveis e de prazer. Assim, as adições são marcadas por uma procura constante do individuo pela gratificação imediata, dificuldade em controlar o comportamento, a necessidade de aumentar a intensidade ou frequência do comportamento para obter o mesmo prazer e dificuldade em interromper o comportamento. Desta forma, tal como acontece na dependência de substâncias, os indivíduos com adições sem substância podem experimentar um profundo mal-estar emocional (como tristeza, insónias, irritabilidade, agitação psicomotora, etc) quando não praticam o comportamento em questão. Assim, à medida que o processo de adição avança, os comportamentos intensificam-se, sendo ativados por emoções e impulsos, e envolvendo um escasso controlo cognitivo. A gratificação imediata é sobrevalorizada e não se atenta nas possíveis consequências negativas desse comportamento.
A adolescência é uma fase de intensas mudanças, tanto físicas quanto emocionais e sociais, o que pode tornar os jovens mais suscetíveis a experimentar esses comportamentos como uma forma de lidar com as transformações e desafios que enfrentam.
Os comportamentos aditivos sem substâncias na adolescência podem ser influenciados por diversos fatores, como fatores individuais, sociais e ambientais. Ao nível individual, os adolescentes podem ser mais propensos a se envolver em comportamentos aditivos sem substâncias se apresentarem uma maior vulnerabilidade emocional, baixa autoestima, procurarem sentir emoções intensas ou utilizar estes comportamentos como forma de escape a problemas pessoais ou emocionais.
Além dos fatores individuais, os fatores sociais também desempenham um papel importante. A pressão dos colegas, o desejo de pertencer a grupos específicos, a influência de amigos que já estão envolvidos em comportamentos aditivos e a exposição a modelos de comportamento inadequados podem contribuir para que os jovens adotem esses comportamentos.
Estes comportamentos podem ter consequências significativas na vida dos jovens: podem afetar negativamente o seu desempenho académico, o desenvolvimento de habilidades sociais, o relacionamento com a família e amigos, a saúde mental e emocional, bem como afetar a sua autoestima e a sua autoimagem corporal. Além disso, podem conduzir ao isolamento social, à falta de autocuidado e à negligência de responsabilidades.
É importante estar atento a estes sinais e os pais, educadores e profissionais de saúde desempenham um papel crucial na identificação precoce desses comportamentos e no encaminhamento para intervenções e tratamentos apropriados.
Neste sentido, finalizo dizendo que oferecer um ambiente de apoio, promover habilidades de enfrentamento saudáveis, incentivar a participação em atividades construtivas e estabelecer uma comunicação aberta e honesta são estratégias que podem ajudar os adolescentes a lidar com os desafios emocionais e sociais, prevenindo o recurso a comportamentos aditivos como estratégia de coping. Além disso, é fundamental fornecer informações e psicoeducar sobre os riscos e consequências destes comportamentos, promovendo e auxiliando os adolescentes a fazerem escolhas saudáveis e conscientes.
// Artigo escrito por Bárbara Fernandes, Psicóloga no Centro Clínico ADCA
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