Primeiramente é importante percebermos o que é uma birra e desmistificar este comportamento. Uma birra é denominada de um estado neurobiológico de desrugalação emocional, ou seja uma intensa explosão emocional. É um comportamento perfeitamente normativo e expectável na infância devido ao facto do cérebro ainda se encontrar em desenvolvimento. Isto porque, existemáreas do cérebro que estão em maturação, como é o caso do córtex frontal, responsável pela regulação emocional, o controlo de impulsos, a resolução de problemas, por pensarmos, pela linguagem.
É uma área que só se começa a desenvolver por volta dos 4/5 anos e se prolonga até mais ou menos aos 25 anos.
Dessa forma, as crianças têm dificuldade em realizar uma adequada regulação das suas emoções, pois não são capazes de gerir/vivenciar todas as emoções fortes, que podem ser despertadas por diversas razões, como por exemplo: necessidades fisiológicas (sono, cansaço, fome…); Necessidades Emocionais (necessidade da criança se sentir aceite e amada) e imaturidade emocional; Imaturidade ao nível da linguagem, pois não se conseguem expressar; Ambiente em casa (se há lugar a gritos, punição, e comunicação entre membros); Nascimentos de irmão, divórcios ou mudanças.
Portanto, as crianças neste processo necessitam da ajuda dos adultos para se autorregularem, e o adulto precisa de perceber que este comportamento é um pedido de ajuda da criança, e a forma como o adulto se coloca perante a birra influencia não só a reação da própria criança e o curso da situação em si, como, a longo prazo, acaba por também moldar a sua aprendizagem e bem estar.
Deixo aqui algumas reflexões sobre a postura que devemos ter perante birras:
Perceber se é uma birra ou se a criança precisa realmente de alguma coisa. Caso seja birra é importante compreender que não o faz para chatear ou irritar o adulto, simplesmente não tem maturidade cerebral suficiente. Portanto devemos evitar pedir para parar e tentar sim perceber o que despoletou o comportamento;
Manter-se calmo e não perder o controlo. Lembre-se que é o adulto, e portanto deve guiar este momento. Se tiver oportunidade e outro adulto por perto na situação de birra, faça uma pausa positiva: deixe a criança com outro adulto e afaste-se para se acalmar e voltar preparado para a ajudar a criança a se autorregular;
Ser firme mas acolher calorosamente a criança e validar as suas emoções ofereça um abraço, respeito, colo , presença e empatia. Evite frases como “não há motivo para estares assim; estás a exagerar”. Lembre-se que a validaçãovem de um lugar de aceitação. Substituir por frases como “já reparei que estas muito chateado, deve estar a ser difícil para ti, mas a mãe/pai esta aqui. Queres um abraço?”
Numa fase seguinte, quando a criança já estiver mais calma e regulada, já lhes podemos ensinar/explicar o que pretendemos;
Ajude-a a reencontrar-se após a explosão emocional (retomar a tarefa que estava a realizar; sugerir outra tarefa; sugerir fazer algo juntos);
Em jeito de conclusão, é importante que o adulto perceba que as birras são normais, e que apesar de tudo são uma etapa necessária à formação do eu, pois permitem aos mais novos afirmarem-se a enfrentarem os obstáculos. Por conseguinte, é fulcral que o adulto olhe para uma birra como uma oportunidade de educar e não como uma catástrofe, e que não confunda o estado emocional (a birra) com a criança em si.
Acima de tudo é importante que se lembrem sempre que estão a fazer o melhor que conseguem, com os recursos e conhecimentos que têm! Mas que caso sintam que não estão a conseguir lidar com o comportamento e que este se tornou pouco tolerante, persistente e até agressivo, podem sempre pedir a ajuda de profissionais de psicologia especializados para tal.
// Artigo escrito por Ana Rita Marinho, Psicóloga no Centro Clínico ADCA
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