O medo é uma emoção básica (Ferreira, Borges, & Seixas, 2010) que tem como principal função alertar-nos do perigo (Bispo da Silva, 2016). Surge nos primeiros meses de vida (Catarina, Signor, Danielli, & Schuck, 2020), por isso, faz parte do desenvolvimento saudável das crianças. Apesar de causar desconforto, assume um papel fundamental na vida do ser humano, uma vez que permite assegurar a sua integridade (Cavinda, 2012).
O medo pode surgir devido a fatores relacionados com a personalidade da criança, com a vivência de situações traumáticas (Catarina, Signor, Danielli, & Schuck, 2020) e com o ambiente familiar (Muris, Merckelbach, Jong, & Ollendick, 2002). Deste modo, expressa-se a partir de manifestações comportamentais (ex. fugir) (Baptista, Carvalho, & Lory, 2005), psicológicas (ex. pesadelos) (Ferreira, Borges, & Seixas, 2010), e fisiológicas (ex. palpitações) (Marteleto & Schoen, 2020).
A maioria dos medos infantis são considerados adaptativos, ou seja, são passageiros (Muris, Merckelbach, Jong, & Ollendick, 2002), típicos de uma determinada fase de desenvolvimento (Cavinda, 2012) e não afetam significativamente o bem-estar da criança.
Porém, quando os medos são duradouros, interferem na supressão das necessidades básicas e prejudicam o funcionamento global da criança (Muris, Merckelbach, Jong, & Ollendick, 2002), estamos perante os medos considerados desadaptativos, que necessitam de ser ultrapassados.
Os pais possuem um papel relevante na forma como as crianças percecionam os seus medos. Portanto, vou partilhar algumas sugestões que poderão ser utilizadas no dia-a-dia:
Quando apresentar novos estímulos à criança, faça-o de forma cautelosa e gradual;
Permita-lhe exteriorizar os medos, sempre que sinta necessidade;
Converse sobre os medos com a criança, transmitindo-lhe mensagens verdadeiras e dando-lhe explicações racionais, de acordo com a sua idade e as suas capacidades cognitivas;
Faça a criança sentir-se ouvida e acolhida;
Procure perceber qual é a causa do medo;
Não a repreenda quando sentir medo de alguma situação ou objeto;
Não ridicularize, nem desvalorize os seus receios;
Dê-lhe segurança, conforto e tranquilidade, nas mensagens transmitidas;
Mostre-se disponível para ajudar a ultrapassar este desafio;
Partilhe os seus medos, para que a criança normalize a situação;
Não potencie o medo, fazendo comentários ameaçadores, como “se não comeres a sopa, vem um bicho papão buscar-te”;
Não obrigue a criança a expor-se à situação temida, caso não se sinta preparada;
Ajude-a a encontrar estratégias adequadas para lidar com os medos;
Reforce a confiança da criança, mostrando-lhe que é capaz de ultrapassar os seus medos.
Contudo, os pais devem estar atentos, se observarem, face ao surgimento de um medo:
Alterações comportamentais repentinas,
Sintomas fisiológicos intensos,
Regressão nas tarefas desenvolvimentais,
Diminuição do rendimento académico,
Prejuízo do bem-estar.
Neste caso, pode ser necessário a ajuda de um profissional.
// Artigo escrito pela Dra. Marta Sousa, Psicóloga no Centro Clínico ADCA
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